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Foto do escritorVinícius Barboza

Trikas

Não tem jeito: o diminutivo descolado de "Tricolor" é viral e um gatilho que denuncia a intolerância e preconceito


É o Trikas e não tem jeito! O apelido carinhoso, diminutivo de "Tricolor" que alguns torcedores mais jovens do São Paulo usavam, viralizou. Fez o Twitter do clube engajar (ainda mais) e suscitou uma discussão que seria muito mais divertida se ficasse apenas no campo da opinião, "eu gosto" contra "eu não gosto", como se fosse um "biscoito" versus "bolacha" dentro da torcida são-paulina.


Twitter do São Paulo usa o termo "Trikas" no anúncio de Nikão. Foto: Reprodução


No entanto, toda essa discussão e engajamento foram gatilho para revelar preconceito, intolerância, LGBTfobia e ameaças abertas de torcedores organizados. A maior organizada do clube, Torcida Independente, publicou nota no Instagram dizendo, entre outras coisas: "na arquibancada não terá essa modinha de 'trikas'. Não tentem a sorte. Para quem for 'trikas', use a sua graça na rede social, onde você quiser, menos nos estádios. Fomos claros?".


Para quem acompanha relatos de tricolores que vão ao Morumbi, o posicionamento da organizada não é surpresa. Problemático, o grupo de adeptos persegue torcedores comuns que usam brincos, cabelos coloridos e camisetas rosas (que apoiam a nobre causa da conscientização do câncer de mama, válido dizer). Antes, diziam eles: torcedores com esse estilo poderiam ir ao Morumbi, mas não no "setor laranja", tradicionalmente ocupado pela Independente. Desta vez, a intolerância não ficou restrita apenas ao setor do estádio do qual a organizada não é dona.


Tweet da Torcida Independente, com ameaças a torcedores comuns que chamarem o clube pelo novo apelido dentro dos estádios. Foto: Reprodução


Além dos posicionamentos e ameaças realizados pela organizada, torcedores do São Paulo contrários ao apelido e torcedores rivais também se manifestaram, com vieses LGBTfóbicos em suas opiniões. Sim, 2022, e o "mundo do futebol" segue diminuindo grupos com orientação sexual diferente daquela que é a "socialmente aceita" dentro de um estádio, a heterossexualidade. Uma chuva de heteronormatividade, intolerância e crimes de ameaça e LGBTfobia.


E tudo por um apelido bobo, um diminutivo? Deixando bem claro: se você - torcedor do SPFC, rival, ou pessoa que sequer acompanha futebol - não gostou da nova alcunha, tudo bem! Porém, sua liberdade de expressão acaba ao buscar ofender um grupo de pessoas ou então ameaçá-las. A LGBTfobia atrelada ao São Paulo FC não atinge os torcedores tricolores, e sim os gays, lésbicas, trans, bissexuais, etc. que torcem para todos os clubes - ou então que nem gostam de futebol, afinal isso só os afasta. É um preconceito que, disfarçado de "brincadeira", mata pessoas na ponta da linha. O mundinho do futebol, que muitos defendem ser politicamente incorreto, diferente do resto da sociedade, não está descolado do "mundo real". Estamos evoluindo: a passos de tartaruga.

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